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sexta-feira, outubro 14, 2005

MATER

Eu não fui sempre assim
mas a minha mãe
sempre foi a noite...
sem leito,... sem sossego.
A minha mãe sempre foi
a que me conta histórias
que nem sempre me custam ouvir
nem sempre me adormecem.
Ainda assim são quase silêncios
mas tão mansos que não ferem
nem interferem com nada.
A minha mãe
é o único medo do escuro
que já não me massacra
e, ao invés, revolve-se em mim
como o primeiro carinho
quiçá... um carinho cego.

A pesar na minha alma
de rapazinho assombrado,
as luzes plácidas da noite;
e eu não me canso
de lhe inventar
afectos e encantos maternos.
Ai mãe, madre-minha-pérola,
meu nácar e matriz,
minha noite velada
e mártir da euforia
de todas as minhas mágoas;
Ai, mãe como eu quero...
mesmo, mesmo, tanto, tanto,
encomendar-te um sonho.
E que seja um sonho cego...

Já nem tudo me chega
desta noite ténuescente
talvez porque a lucidez
se me obstine, caprichosa,
pela miopia a dentro;
talvez que a mira lucífuga
de um certo entendimento
denuncie o meu querer
que na alma se emprenha.
E só essa noite maternal
se pode ter por testemunha
de uma tal consciência;
que da sua penumbra
emana para mim o presságio
de eu não claudicar
no intento incendiário
de me oferecer, vivo. Sim!,
reafirmar-me pelo parto
do possível em excelência,
do desiderato de sublimação
a brotar do meu fogo.
Porventura um fogo cego...

É por aqui que se burila
um destino remanescente
para os meus passos.
A tornar-se insana a ousadia
de reservar para mim
o recôndito peito da noite.
Se não estou em erro,
levo para qualquer eternidade
o ventre prenhe de um credo.
Ainda que seja credo... cego.


Luis Melo

5 comentários:

Unknown disse...

Hola! venho informar os frequentadores aqui espaço que já linkei o blog. espero obviamente tratamento idêntico... senão de que nos valem as cunhas?! :P

Anónimo disse...

Com o maior respeito pelo amigo
Nukin e a devida vénia ao seu belo blog...

Nukin said...
Hola! venho informar os frequentadores aqui espaço que já linkei o blog. espero obviamente tratamento idêntico... senão de que nos valem as cunhas?! :P
...
É suposto que as linhas anteriores sejam um "comment" aos meus versos ? (Enfim!)

Gil Von Doellinger disse...

Não sejas assim Luís...
Estás a ser intransigente por algo que não faz sentido...
Vamos todos dar as mãos em comunhão..
:p

Anónimo disse...

Mas oh por quem tu és, boralá a isso de dar as mãos em comunhão...
[[ ]] ... amigo meu !

Anónimo disse...

Entretanto...
vou entregar-me a algo como o devaneio de me comentar em causa própria como quem não tem mais que fazer que ceifar a sua ceara ainda que fora de tempo e mal-grado os bocejos do espantalho na ceara do lado... agora que crescem e se populam as longas manhãs outonais.
"MATER" havia de ser uma abordagem (pessoal) da personagem "mãe" que como temática já vai resultando num lugar comum profícuo em textos literários. Milito num punhado de trenguices (para não lhes chamar incompetências) e por via de uma delas terei falhado o meu intento inicial quanto à "Mater". Passei ao lado ou acabei por engendrar um plano simbológico que até a mim transcende. Olho e volta não há ninguém a quem pedir perdão. Cumulativamente, estou só e isto será um monólogo digno de inspirar
os mais elevados (ou não) bocejos.

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Luis Melo