Deixem aqui os vossos comentários

segunda-feira, outubro 15, 2007


Como caem as árvores

eu caio e caindo caio como as folhas

e as sombras caem devagar e leves

e oiço-os chorar e falar comigo

e não posso responder enquanto caio porque se respondesse

que diria senão que me abato como se abateram

outrora o meu pai a minha mãe o meu marido

de repente calados e imóveis e assim brancos

como a luz nesta casa tão branca sobre os móveis brancos

os espelhos devolvem o silêncio e as lágrimas deles

e amanhã subirão comigo lá acima

e sem palavras para além das do padre

voltarão o meu rosto na direcção do sol.


António Lobo Antunes

Sem comentários: