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terça-feira, novembro 29, 2005

EXÍLIO


Ele parte no inverno, quando os dias são curtos
e os sonhos dos homens têm lobos e crespúsculos;
com ele vai a concha do destino errante – e o
vento empurra-o para o labirinto de vozes que
essa concha encerra. Perde-se. Um deus rápido ace-
na-lhe, de passagem, com a visão da primavera. Os
ramos secos do horizonte, brilhando sob a fria
chama matinal, dão-lhe acentos errados às frases.
E volta para trás, para dentro, onde vivem bre-
vemente as imagens de um rio estagnado, bancos
de areia na nostalgia da noite, futuros inversos,
um canto de cúpulas no nascimento do musgo. A
sua voz apodrece.


Nuno Júdice
In Poesia Reunida 1967-2000

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