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quarta-feira, setembro 14, 2005

O LOUCO

PERGUNTAM-ME como fiquei louco?
Foi assim:

Há muito tempo, muitíssimo,
muito antes de terem nascido os deuses,
despertei de uma profunda letargia
e reparei que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas.

Sim, as sete máscaras
que para mim tinha fabricado e utilizado
nas minhas sete vidas.

Corri sem máscara
pelas ruas cheias de gente
gritando:
- Ladrões! Malditos ladrões !


Homens e mulheres riram-se de mim,
e muitos fecharam-se em casa,
cheios de medo.

Quando cheguei à praça do mercado,
um rapaz que estava de pé
no telhado da casa,
gritou apontando-me com o dedo:
-é um louco!

Ergui os olhos para o ver,
e foi então que o sol banhou
pela primeira vez
o meu rosto despido.

Pela primeira vez
o sol banhou o meu rosto despido
e a minha alma
encheu-se de amor ao sol,
e desde então
nunca mais quis usar máscara.

Depois gritei
como se estivesse em transe:
-Benditos! Benditos ladrões
que me roubaram as máscaras!

Foi assim que me tornei louco.

Encontrei muita liberdade
e segurança

na minha loucura;
a liberdade da solidão
e a segurança de nunca ser compreendido,
porque aqueles que nos compreendem
fazem de nós escravos.

Mas não deixem
que me orgulhe demasiado
da minha segurança;
nem sequer o ladrão encarcerado
está livre de encontrar outro ladrão.


Khalil Gibrain
O Louco

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