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quinta-feira, agosto 20, 2009

Mania da Solidão





Como um jantar frugal junto à clara janela.

Na sala já está escuro mas ainda se vê o céu.

Se saísse, as ruas tranquilas deixar-me-iam

ao fim de pouco tempo em pleno campo.

Como e observo o céu - quem sabe quantas mulheres

estão a comer a esta hora - o meu corpo está tranquilo;

o trabalho atordoa o meu corpo e também as mulheres.



Lá fora, depois do jantar, as estrelas virão tocar

a terra na ancha planura. As estrelas são vivas,

mas não valem estas cerejas que como sozinho.

Vejo o céu, mas sei que entre os tectos de ferrugem

brilha já alguma luz e que, por baixo, há ruídos.

Um grande golo e o meu corpo saboreia a vida

das árvores e dos rios e sente-se desprendido de tudo.

Basta um pouco de silêncio e as coisas imobilizam-se

no seu verdadeiro sítio, como o meu corpo imóvel.



Cada coisa está isolada ante os meus sentidos,

que a aceita impassível: um cicio de silêncio.

Cada coisa na escuridão posso sabê-la,

como sei que o meu sangue circula nas veias.

A planura é água que escorre entre a erva,

um jantar de todas as coisas. Cada planta e cada pedra

vivem imóveis. Escuto os alimentos e eles alimentam-me as veias

com todas as coisas que vivem nesta planura.



A noite importa pouco. O rectângulo de céu

sussurra-me todos os fragores e uma estrela miúda

debate-se no vazio, longe dos alimentos,

das casas, distinta. Não se basta a si mesma

e precisa de muitas companheiras. Aqui no escuro, sozinho,

o meu corpo está tranquilo e sente-se soberano.



Cesare Pavese

Trabalhar Cansa
Tradução de Carlos Leite


1 comentário:

Silenciosamente ouvindo... disse...

Venho desejar, o melhor ano de
2011 possível.
Saudações