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sexta-feira, outubro 19, 2007

O relógio não para

A tua imagem ainda cravada no caderno; o teu cheiro que se funde com o ar, torna-se intragávelEsboço sorrisos do passado, a medo mas teus..Percorro cada passo teu deixado pelos cantos da casa; bebo da tua caneca, beijo a imaginaçãoonde perduras sem dó.Regresso lentamente ao presente.Os ponteiros do relógio continuam a dar sinal de vida e cada vez mais rápido andam às voltinhas...Saio à rua, onde me misturo com seres perdidos, flores belas(outras podres)..Caminho sem noção da direcção que devo tomar.Entro em ruelas estreitas, alguns becos sem saída que me fazem teimosamente voltar para trásTrago comigo apenas a tshirt do che rasgada e suja colada ao corpo, uma caneta já quase sem carga no bolso de tráse uma folha amachucada entre os dedos.Entro num jardim (nada de especial, apenas um jardim) deito-me na relva (apenas relva igual às outras tantas)e olho o sol...Relembro o passado (como sempre o fiz, como sempre o faço)agarro na caneta e escrevo no ar palavras sem nexo..A folha de papel rasgo-a em pedacinhos e atiro.os para bem longe (não sei bem o porque, apeteceu -me apenas fazê-lo)Balbucio algumas parvoíces sem sentido algum...mas recordo-me de ti..como tu davas tanta importância às minhas loucuras; ao meus DASSE...às merdas que eu dizia e fazia..Lembro-me de transformares cada gesto meu, cada palavra minha (por mais parva que tenha sido) e as transformavas empequenos rios de luz que iluminavam toda a noite...Levanto-me e volto a casa. Olho à minha volta e reparo nos objectos espalhados pelo chão, livros fora dos lugares, as tuas cartas, os teus mails[ e eu fazia questão de não arrumar nada, para te lembrar sempre que passeava pelacasa]Enrolo-me num lençol e observo a luz ténue que entra pela janelinha da sala; sento-me no chãoe reparo nas paredes, escrupulosamente alinhadas, parte de mim a escorrer, o que sinto por ti (ou o que sinto, ou melhor o que eu penso sentirpor ti)Crio sombras indecifráveis, mortos que passeiam pela minha pele deixando um rasto viscoso da vida que levaramO dia acaba, a escuridão da noite mergula na minha intimidade (já arrancada)Uma íbis de cristal entra-me pelo corpo percorrendo todas as minhas veiaslevando-me, completamente, à loucura;Fico quieto, amedrontado até ela se soltar dentro de mim e as coisas se tornarem mais perecíveis a mim e ao "mundo".Cansei-me de te percorrer pelos vazios da noite e no mais profundo da solidão.Volto a fazer esboços, mas agora desenho o qeu é real, os sorrisos que passam diante a minha portarecordo.te tornando o mar, não algo de imaginário ou impossivel de navegar, mas em algo doce e meigo;tornando o relógio suportável de se ouvir e apreciar..recordo.te deixando a íbis de cristal voar entre as sombras dos cadáveres perdidos no vácuo da vida(?) edos animais indecífraveis, efémeros, tristes...Não serás mais uma loucura mas uma recordação deliciosa que escondo que teimo em guardar na gavetado meu armário.

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