Deixem aqui os vossos comentários

quarta-feira, novembro 16, 2005

UM POEMA DE AMOR, AINDA...


Um trabalho sonâmbulo corrói a vegetação. O vento
assombra o mutismo das suas folhas. Incham com a chuva,
grávidas de uma febre cinzenta. Arranco-lhes esse fruto
com mãos de crepúsculo.

Ponho-o na mesa onde me sentei contigo. Colho
o teu olhar triste; espalho-o no prato onde a vida
arrefece. Comemos devagar cada sílaba do amor que
nenhum de nós prenuncia.

E um coral de silêncio brota dos teus
dedos, enquanto te afastas.


Nuno Júdice
In Poesia Reunida 1967-2000

Sem comentários: