A quem deixar o meu guarda-roupa oculto
o guarda-roupa fantasma
de todos os vestidos
que tive e que me abandonaram
os vestidos
que nunca tive e que vesti em segredo
O vestido que veio demasiado cedo
e que nunca me caiu bem
o vestido
que chegou já tarde
para ir à festa
quando eu já tinha adormecido.
O vestido de criança
tão igual ao vestido
da primeira boneca
O da menina com o corpete já estreito
apertava os seios doendo-lhe em casulo
O da adolescente que pressentia o homem
ladrão de túnicas na sesta sufocante.
O vestido esquecido
da mulher que sob a sombra
do homem eclipse ocultou-se uma noite
e amanheceu como a lua cheia
surpreendida pela luz na metade do céu.
O vestido de guerra rasgado
como bandeira
da mãe partida em dois
para sentir-se inteira.
O vestido de luto que não levei para os meus
mortos
que ainda vivem.
Os vestidos que alguém me emprestou para sonhar
...Quando chegar a morte também será um vestido
que não verei porque estarei a dormir.
Josefina Plá
sexta-feira, novembro 25, 2005
A quem deixar
Publicada por plim à(s) 17:09
Etiquetas: Josefina Plá
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