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segunda-feira, outubro 31, 2005

[VIAGEM NUNCA FEITA?]

- Naufrágios? Não, nunca tive nenhum. Mas tenho a impressão de que
todas as minhas viagens naufraguei, estando a minha salvação escondida em
inconsciências intervalantes.
- Sonhos vagos, luzes confusas, paisagens perplexas - eis (o que me
resta na alma de tanto que viajei.
Tenho a impressão de que conheci horas de todas as cores, amores de
todos os sabores, ânsias de todos os tamanhos. Desmedi-me pela vida fora e
nunca me bastei nem me sonhei bastando-me.
- Preciso explicar-lhe que viajei realmente. Mas tudo me sabe a constar-me que viajei, mas não vivi. Levei de um lado para o outro, de norte para
sul... de leste para oeste, o cansaço de ter tido um passado, o tédio de viver
um presente, e o desassossego de ter que ter um futuro. Mas tanto me esforço
que fico todo no presente, matando dentro de mim o passado e o futuro.

- Passeei pelas margens dos rios cujo nome me encontrei ignorando. Às
mesas dos cafés de cidades visitadas descobri-me a perceber que tudo me sabia
a sonho, a vago. Cheguei a ter às vezes a dúvida se não continuava sentado à
mesa da nossa casa antiga, imóvel e deslumbrado por sonhos! Não lhe posso
afirmar que isso não aconteça, que eu não esteja lá agora ainda, que tudo isto,
incluindo esta conversa consigo, não seja falso e suposto. O senhor quem é?
Dá-se o facto ainda absurdo de não o poder explicar. . .


Bernardo Soares

1 comentário:

Anónimo disse...

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