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quarta-feira, setembro 14, 2005

Uma estranha certeza

Durante muitos anos, com frequência
me lembrei de ti, ou da tua imagem,
para ser mais exacto, pois daquilo
que uma vez amamos só nos resta
(tal como de um livro) uma muito vaga
impressão geral e algum episódio.
E com frequência também me perguntei,
procurando entre a névoa da lembrança
não sei se uma resposta, o que deixaste
em mim que continue meu ainda
e se não foi o amor, o meu amor por ti
e não tu própria, o que me importa ainda
e o que procuro ainda ao recordar-te.
Se a nossa vida arde, somos chama
ou aquilo que se queima e é a cinza?
Nessa desmesura que é o tempo
acham sua razão amor e esquecimento,
mas não sua medida. Ao recordar-te,
compreendo-o tão bem, que pouco importa
saber ou não saber, mas tão-somente
sentir que foste parte de mim mesmo,
que estás dentro de mim, tal os meus sonhos,
que são e não são eu, mas em mim nascem,
que já nunca de mim vais apagar-te,
que, queira ou não queira eu o esquecimento,
hás-de ir vivendo com a minha vida.
Que estranha sensação essa certeza.


Abelardo Linares

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