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quarta-feira, setembro 14, 2005

AUTO-RETRATO

Quantas horas não choras a pensar
em ti -- quando ando, desando,
neste viver sem mim.
Quantos anos sem tino. De mim
este cantar desencantado -- assim.
Embora os dias me afastem já de ti
procuro saber do teu espaço,
nas casas brancas onde o azul desmaia. Sinal
de outro tempo em que ainda rias,
espaço meu. Afinal alteras, aterras, ó desenterrado.
Finges, desarmas, com teu gosto azedo. Procuras,
já vives, nas verdes veredas. Mas não sabes,
nem queres, do teu ao meu, essa coisa
chamada amor.

Outra vez ainda desanimas
quando o caminho é rude.
Mas vê se te ergues; se te animas.
Não és tu quem às vezes até reza?
Claro: vais por aí fora à toa, entoas,
ou então, nas linhas, avanças entrelinhas.
Querias era estrelas -- estrelinhas.
Outra vez descobres o perfil do abandono
e na manta te enrolas:
palavras, palavras de sono.
Julgas cantar o teu destino
e retomas a meada, o desatino,
o novelo em que andas enredado.
Mas essa coisa chamada amor?


Eduardo Guerra Carneiro

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